Você já ouviu falar do oliliuqui? E do peyote? E da ayhuasca ou yagé? E da folha divina da imortalidade?
Pois todos esses nomes se referem a plantas alucinógenas usadas pelos índios
da América Latina para entrar em contato com seu universo interior ou com seus
deuses. Para pesquisá-las, três gerações de botânicos da Universidade de
Harvard percorreram nosso continente, enfrentaram todo tipo de perigo e doença.
Descobriram como essas drogas atuam. Para retratá-las com precisão, eles
experimentaram quase todas e relataram os efeitos sobre seus corpos e mentes.
Um barato que, às vezes, saiu caro.
Essa
aventura louca, que põe Indiana Jones no chinelo, aparece no livro El Rio, de Wade Davis, etnobotânico e
documentarista canadense. El Rio, ou One River no original, infelizmente não
foi traduzido para o português, mas merece. É ótima leitura. Além de resgatar
as aventuras de Richard Schultes, Tim Plowman e do próprio Wade Davis nas
selvas, também realiza amplo levantamento da cultura e da história de países
latinos e de tribos indígenas. Por exemplo, ao mergulhar no ciclo da borracha,
descreve o apogeu de Manaus, quando os perdulários milionários da cidade, para
ter seus lençóis bem branquinhos, mandavam lavá-los na Europa. Lembra como as
sementes de nossa seringueira foram contrabandeadas para a Ásia e como os
norte-americanos fazem biopirataria usando o nome da ciência. Conta como tribos
inteiras foram chacinadas pelos europeus, sobretudo espanhóis. Ao todo, quase 30 milhões de pessoas.
Mostra,
ainda, outro tipo de extermínio, perpetrado por religiosos que, em nome da
salvação, dizimaram muitos povos e suas culturas. Revela que dois presidentes
dos Estados Unidos, vários artistas e Freud se tornaram consumidores de coca. O
papa Leão XIII até condecorou o inventor de uma bebida, o Vinho Mariani, feito
com a planta. Aliás, a coca é, até hoje, importada legalmente nos Estados
Unidos pela Stepan Chemical Company, empresa que repassa um de seus extratos
para a Coca-Cola, originalmente um remédio vendido em farmácia como vinho
francês de coca. O que mudou?
Tudo
isso e muito mais você encontra em
El Rio ou One River, de Wade Davis. Livro
delicioso, apaixonado, apaixonante, imperdível. Se tiver oportunidade de lê-lo,
faça-o. Você não sairá ileso das águas desse rio.
2 comentários:
Parece ser um livro genial! Vou torcer para que chegue por aqui.
De fato, é genial. Também torço pela edição brasileira.
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