domingo, 31 de maio de 2015

Três pesquisadores que experimentaram quase todas as drogas

         Você já ouviu falar do oliliuqui? E do peyote? E da ayhuasca ou yagé? E da folha divina da imortalidade? Pois todos esses nomes se referem a plantas alucinógenas usadas pelos índios da América Latina para entrar em contato com seu universo interior ou com seus deuses. Para pesquisá-las, três gerações de botânicos da Universidade de Harvard percorreram nosso continente, enfrentaram todo tipo de perigo e doença. Descobriram como essas drogas atuam. Para retratá-las com precisão, eles experimentaram quase todas e relataram os efeitos sobre seus corpos e mentes. Um barato que, às vezes, saiu caro.
          Essa aventura louca, que põe Indiana Jones no chinelo, aparece no livro El Rio, de Wade Davis, etnobotânico e documentarista canadense. El Rio, ou One River no original, infelizmente não foi traduzido para o português, mas merece. É ótima leitura. Além de resgatar as aventuras de Richard Schultes, Tim Plowman e do próprio Wade Davis nas selvas, também realiza amplo levantamento da cultura e da história de países latinos e de tribos indígenas. Por exemplo, ao mergulhar no ciclo da borracha, descreve o apogeu de Manaus, quando os perdulários milionários da cidade, para ter seus lençóis bem branquinhos, mandavam lavá-los na Europa. Lembra como as sementes de nossa seringueira foram contrabandeadas para a Ásia e como os norte-americanos fazem biopirataria usando o nome da ciência. Conta como tribos inteiras foram chacinadas pelos europeus, sobretudo espanhóis. Ao todo, quase 30 milhões de pessoas.
          Mostra, ainda, outro tipo de extermínio, perpetrado por religiosos que, em nome da salvação, dizimaram muitos povos e suas culturas. Revela que dois presidentes dos Estados Unidos, vários artistas e Freud se tornaram consumidores de coca. O papa Leão XIII até condecorou o inventor de uma bebida, o Vinho Mariani, feito com a planta. Aliás, a coca é, até hoje, importada legalmente nos Estados Unidos pela Stepan Chemical Company, empresa que repassa um de seus extratos para a Coca-Cola, originalmente um remédio vendido em farmácia como vinho francês de coca. O que mudou?

          Tudo isso e muito mais você encontra em El Rio ou One River, de Wade Davis. Livro delicioso, apaixonado, apaixonante, imperdível. Se tiver oportunidade de lê-lo, faça-o. Você não sairá ileso das águas desse rio.   

2 comentários:

Mariza Guerra disse...

Parece ser um livro genial! Vou torcer para que chegue por aqui.

BlogdoLuísGiffoni disse...

De fato, é genial. Também torço pela edição brasileira.