quinta-feira, 21 de maio de 2015

Um bruxo bom para a cabeça

Quem não se sente meio sem inspiração de vez em quando, com os neurônios em recesso, o cérebro desligado? Sempre que termino de escrever um livro, caio nesse processo, sofro com a entressafra, acho que a fonte secou e nunca mais escreverei. Minha receita para sair do parafuso é ler. Leio muito. De tudo. Sobretudo releio autores favoritos.
Para turbinar a cabeça, ninguém melhor que Jorge Luis Borges. O bruxo argentino possui imaginação para dar e emprestar. Seu excesso de criatividade me excita, besunta as sinapses e restabelece o fluxo das ideias. Mergulho fundo nele, busco entendê-lo no momento da criação, encanto-me com os meandros de sua mente. Viajo na biblioteca sem fim de Babel, nos caminhos que se bifurcam em Almotásin, no Aleph que tudo contém, devoro as histórias da infâmia, admiro a erudição, pesquiso quais citações são verdadeiras ou inventadas, descubro nuances das quais não desconfiava, passeio até pelo fervor de Buenos Aires, renovo a impressão de que Borges, brilhante demais, conciso demais, tinha preguiça para escrever histórias longas, um romance por exemplo.
Aliás, essa impressão me foi confirmada por dois de seus amigos na capital argentina, onde certa vez, anos depois da morte de Borges, conheci um sósia seu, um senhor tão parecido que quase lhe pedi autógrafo. Admirador tem cada idiossincrasia...

Nesses dias em que começo a sair da entressafra, uma vez mais fico em débito com o bruxo portenho. Bela maneira de me curar ou, quem sabe, me adoecer de novo para a escrita. Ah se todo remédio fosse assim tão perfeito e gostoso. Pois passo a receita a todos. Se funcionar, passem adiante. Boa leitura não tem contraindicação. Nem fim. Como diria Borges, é um eterno retorno. 

3 comentários:

Anônimo disse...

Borges é realmente remédio para todos os males da vida. Belo conselho, primo! Beijos, Carla Giffoni

BlogdoLuísGiffoni disse...

Concordo plenamente, Carla.

Terezinha disse...

Também vivo de entressafras. Ou safras de leituras. Neste ano já li 25 livros. Dei de cara com um chileno que me tirou do sério.Roberto Bolaño. Acompanhar seu ritmo de escrita pululante é algo novo para mim- coisa como registrar cada passo do pensamento, a presença de mil vozes a cada instante. Comecei com Nocturno de Chile, Putas asasinas, LLamadas telefonicas e Detetives Selvagens, este em português.Nossa! Até a teoria da literatura que estudei no curso de Letras me ajudou a entrar nesse mundo para mim tão novo.