Já
participei de seminários, palestras e congressos sobre Guimarães Rosa no
Brasil, Inglaterra e Alemanha. A maioria dos trabalhos abordava Grande Sertão: Veredas,
obra-prima do autor. O que faz Grande
Sertão: Veredas tão estudado, tão sedutor, apesar de nunca ter caído no
gosto popular?
O romance é uma soma de tramas,
invenções, reinterpretações e símbolos. Tramas, invenções, reinterpretações e
símbolos linguísticos, geográficos, mitológicos, filosóficos, literários. Tudo
bem combinado com talento, audácia e originalidade. Mistura de real e
sobrenatural, de minúcias do sertão e lendas medievais, de linguagem cabocla e
neologismos enraizados em diversas línguas, de honra masculina e
homossexualidade, de vivência e psicanálise, de sutileza e violência, de amor e
pecado, de deus com o diabo. Grande Sertão oferece uma orgia para os
sentidos. Deste e de outros mundos.
É difícil penetrar em seus meandros,
emaranhados, veredas. Uma vez dentro do mundo rosiano, o prazer é intenso. A
saga dos jagunços Riobaldo e Diadorim transcende o sertão e se faz humanidade.
Minas Gerais vira um universo único, nascido no ventre de Rosa, morto com ele.
Nós, leitores, ao final do livro, sentimos a epifania da arte, o intelecto
transformador e o transformado, o êxtase da literatura.
Sim, vale a pena desbravar o Grande Sertão. Há magia nele, há um mago por trás de suas páginas. Se
Machado de Assis é o Bruxo do Cosme Velho, com carinho, merecimento e admiração
Guimarães Rosa é o Bruxo de Cordisburgo. Bruxo dos bons, ao mesmo tempo mago e
magia. Com direito a um caldeirão onde cabem línguas, filósofos, escritores,
vidas e vivências que o mago devorou.
Um comentário:
Você acerta na mosca, pega na veia, ao adaptar a perífrase de Machado para Rosa: os dois são grandes bruxos das palavras, grandes magos das letras.
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