segunda-feira, 25 de maio de 2015

Um mago de outros mundos

        Já participei de seminários, palestras e congressos sobre Guimarães Rosa no Brasil, Inglaterra e Alemanha. A maioria dos trabalhos abordava Grande Sertão: Veredas, obra-prima do autor. O que faz Grande Sertão: Veredas tão estudado, tão sedutor, apesar de nunca ter caído no gosto popular?
          O romance é uma soma de tramas, invenções, reinterpretações e símbolos. Tramas, invenções, reinterpretações e símbolos linguísticos, geográficos, mitológicos, filosóficos, literários. Tudo bem combinado com talento, audácia e originalidade. Mistura de real e sobrenatural, de minúcias do sertão e lendas medievais, de linguagem cabocla e neologismos enraizados em diversas línguas, de honra masculina e homossexualidade, de vivência e psicanálise, de sutileza e violência, de amor e pecado, de deus com o diabo. Grande Sertão oferece uma orgia para os sentidos. Deste e de outros mundos.
          É difícil penetrar em seus meandros, emaranhados, veredas. Uma vez dentro do mundo rosiano, o prazer é intenso. A saga dos jagunços Riobaldo e Diadorim transcende o sertão e se faz humanidade. Minas Gerais vira um universo único, nascido no ventre de Rosa, morto com ele. Nós, leitores, ao final do livro, sentimos a epifania da arte, o intelecto transformador e o transformado, o êxtase da literatura.
          Sim, vale a pena desbravar o Grande Sertão. Há magia nele, há um mago por trás de suas páginas. Se Machado de Assis é o Bruxo do Cosme Velho, com carinho, merecimento e admiração Guimarães Rosa é o Bruxo de Cordisburgo. Bruxo dos bons, ao mesmo tempo mago e magia. Com direito a um caldeirão onde cabem línguas, filósofos, escritores, vidas e vivências que o mago devorou.

         

Um comentário:

Afonso Baião disse...

Você acerta na mosca, pega na veia, ao adaptar a perífrase de Machado para Rosa: os dois são grandes bruxos das palavras, grandes magos das letras.