Literatura
se faz com talento e sensibilidade. Talento para transmitir ideias e sensibilidade
para capturar a complexidade do ser humano. Poucos autores realizam essa tarefa
com a competência de Bartolomeu Campos de Queirós. Ele nos encanta, ainda, pela
abordagem de sua própria vida, que transforma em prosa poética. Não é um
escritor infantojuvenil, como costumam rotulá-lo. Nada disso. Talvez ele fale à
criança que ainda habita em
nós. Criança que talvez carregue memórias dolorosas da
infância, com frequência obrigada a crescer à força e na marra, empurrada pela vida.
Prova disso é seu livro Vermelho Amargo. Nele, vemos o menino
sensível e observador retraçar os passos da paixão de uma família cuja mãe foi
substituída por uma madrasta que possui ingredientes de conto de fadas: ela
distribui pouco amor, pouco carinho, pouca atenção e até pouca comida. Um
simples tomate sintetiza, com dramaticidade, a dor da perda. O pai alcoólatra
pouco contribui para minorar a falta. Vermelho
Amargo tem gosto de pouco, de falta.
A dor profunda se mistura à memória
numa linguagem que executa verdadeira sinfonia à língua portuguesa, à palavra
precisa, à reflexão intensa. Tudo isso em setenta páginas de texto.
Vermelho
Amargo fala direto ao coração. E faz sashimi desse coração com uma faca
de gume afiado, pronta para cortar fundo cada fibra de nossa sensibilidade. E
serve o prato ainda com o sangue da memória bem quente, bem líquido, a escorrer
diante dos olhos.
2 comentários:
Bonito comentário! O livro de Bartolomeu é belo e triste!
Concordo com você, Francirene. Obrigado pela leitura. Abs
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