Raramente um neologismo nos pegou com a força do tablet, essa varinha de condão que, com dois toques, coloca o
mundo na palma de nossa mão. Tablet tornou-se arroz com feijão, graças a uma
campanha de lançamento bem feita. Todas as mídias noticiaram a histeria
consumista, alardeou-se até a escravidão em que os operários chineses seriam
mantidos, para atender à surpreendente demanda. Ninguém questionou a exploração
humana, todos queriam a geringonça, o novo gadget. O fenômeno se repete, ano
após ano, a cada lançamento, a cada novo modelo que pouco muda.
O Brasil aderiu ao modismo de
corpo e alma. O governo ameaça, volta e meia, colocar o tablet na mochila de
cada aluno da escola pública. Passa da hora. Os marqueteiros juram que, se você
não comprar um, você vira ET. Por conta de seus gadgets, Steve Jobs perdeu
todos os pecados e morreu santo e herói ecumênico. Enquanto isso, novas
gerações de tablets chegam ao mercado, novas empresas os comercializam, novos
nomes são inventados, surgem os foblets, muitos não vingam, todos se tornam
goblets (Santo Graal para recolher dinheiro), as pessoas se sentem goblins
quando não possuem o modelo mais atualizado.
Já
vi esse oba-oba antes. Muitas vezes. Aconteceu com tvs, vídeos, filmadoras,
pcs, celulares, laptops etc. Desatento e induzido, comprei na afobação vários
gadgets, completas inutilidades. Tenho pilhas de lixo eletrônico. Quanto ao
tablet, todos possuirão um. Ele resolve problemas, inclusive o de carregar muitos
livros numa viagem. Ainda mais agora que os modelos mais simples custam apenas
100 reais. Se funcionam, não sei, porém o preço comprova a tese de que logo todos terão
um. Nem que seja para parecer moderno e deste mundo. Um mundo de neologismos e
de quinquilharias digitais. Um mundo de gente afobets por gadgets que logo vão para o lixets.
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