segunda-feira, 4 de maio de 2015

Um professor desanimado

        Ele dá aulas há quase 30 anos em faculdades particulares. Está cansado. Não das aulas, mas da atual situação do ensino. Queixa-se dos alunos: buscam apenas o diploma. Define o problema com uma frase emblemática: "os alunos de hoje querem o diploma para esconder a incompetência". Não é preciso saber, é preciso formar.
        Quando ele começou a lecionar, havia maior interesse em aprender. Hoje, nem bem a lista de chamada é passada, a metade da sala vai embora. Em qualquer matéria. Afirma que apenas 10% dos alunos de fato se dedicam aos cursos. 20 %, mediante a persuasão, podem ser motivados e se tornar bons profissionais. Os 70% restantes são casos perdidos.
         Levanta uma hipótese aterrorizante. Tantos estudantes talvez não frequentem as aulas porque não conseguem entendê-las. Muitos leem os manuais e as apostilas e não os compreendem. São incapazes de redigir um texto inteligível. Cometem erros grosseiros. De fato, segundo as estatísticas do Instituto Paulo Montenegro, 38% dos formandos continuam analfabetos funcionais.
        As queixas também se dirigem à burocracia universitária. À caça de maior lucro, o investimento nos cursos é cada vez menor. Os salários seguem a tendência. Os mestres com maior experiência são dispensados, pois, em geral, recebem mais.
        O professor, que foi paraninfo no ano passado, confessa seu cansaço. E fracasso. Alega ter recebido uma educação mais adequada que a que hoje consegue oferecer. Por isso, não se aposenta. Quer reverter a situação. Tem esperança. Cada vez mais tênue. E o tempo escasseia.

2 comentários:

helentry disse...

Os tempos mudam , mas a esperança é a última que morre e vive do mesmo jeito...
Gostei muito do que li!

Terezinha disse...

Quem sabe, o mal está lá na raiz... a sala de aula do ensino fundamental não mudou nada. É a do tempo de nidsis avôs. O respeito dos governantes pelo professou também não muda.( ler é muito perigoso.)