segunda-feira, 15 de junho de 2015

Uma mentira com mais de 700 anos?

       As Viagens de Marco Polo tem marcado milhões de pessoas por mais de setecentos anos. Na infância, viajei no livro por todo o Oriente. Com o veneziano, nasceu minha atração pela China, país que eu viria a conhecer e sobre o qual também escreveria um livro. Marco Polo revelou detalhes da longa Rota da Seda, como a riqueza das cidades, o poder do imperador mongol Kublai Khan na recém-construída Beijing, a vastidão de seu império, o avanço da cultura chinesa que já usava o papel como moeda no século 13, a vastidão e os perigos dos desertos e das montanhas, os muitos reinos existentes entre a Europa e a China, os costumes, os povos, os animais exóticos.
          Seu gosto pela descrição minuciosa enriqueceu o relato, transformado em bestseller manuscrito, pois a imprensa ainda não existia no Ocidente. Foram tantas as novidades reveladas, que poucos acreditaram nelas, e a obra ficou conhecida como Il Milione, isto é, Um Milhão de Mentiras. Historiadores ainda discutem se Marco Polo de fato trabalhou para Kublai Khan, pois não existem referências à sua presença na corte chinesa, tampouco ele cita a Grande Muralha ou hábitos locais arraigados, como beber chá. O veneziano criou um império com a imaginação?
          No entanto, por estar lá ou por ouvir de quem esteve, ele capturou o encanto e o espanto do Oriente. E o fez tão bem, que suas descrições serviram de base para mapas do século 14, além de seduzir todas as gerações desde que suas viagens vieram a público, ao redor de 1300.

          Foram de verdade ou de mentira? Não importa. As Viagens de Marco Polo continua sedutor. Como dizem os italianos, se non è vero, è bene trovato. Bene trovato por sete séculos. Parece mentira.

2 comentários:

Terezinha disse...

Que o diga Italo Calvino.

BlogdoLuísGiffoni disse...

Ah, esses italianos...