As Viagens de Marco Polo tem marcado milhões de pessoas por
mais de setecentos anos. Na infância, viajei no livro por todo o Oriente. Com o
veneziano, nasceu minha atração pela China, país que eu viria a conhecer e
sobre o qual também escreveria um livro. Marco Polo revelou detalhes da longa
Rota da Seda, como a riqueza das cidades, o poder do imperador mongol Kublai
Khan na recém-construída Beijing, a vastidão de seu império, o avanço da
cultura chinesa que já usava o papel como moeda no século 13, a vastidão e os perigos
dos desertos e das montanhas, os muitos reinos existentes entre a Europa e a
China, os costumes, os povos, os animais exóticos.
Seu gosto pela descrição minuciosa
enriqueceu o relato, transformado em bestseller
manuscrito, pois a imprensa ainda não existia no Ocidente. Foram tantas as
novidades reveladas, que poucos acreditaram nelas, e a obra ficou conhecida
como Il Milione, isto é, Um Milhão
de Mentiras. Historiadores ainda discutem se Marco Polo de fato
trabalhou para Kublai Khan, pois não existem referências à sua presença na
corte chinesa, tampouco ele cita a Grande Muralha ou hábitos locais arraigados,
como beber chá. O veneziano criou um império com a imaginação?
No entanto, por estar lá ou por ouvir
de quem esteve, ele capturou o encanto e o espanto do Oriente. E o fez tão bem,
que suas descrições serviram de base para mapas do século 14, além de seduzir
todas as gerações desde que suas viagens vieram a público, ao redor de 1300.
Foram de verdade ou de mentira? Não
importa. As Viagens de Marco Polo continua
sedutor. Como dizem os italianos, se non
è vero, è bene trovato. Bene trovato por sete séculos. Parece
mentira.
2 comentários:
Que o diga Italo Calvino.
Ah, esses italianos...
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