Por amor à fantasia,
invisto o tempo em histórias que arranco do baú da imaginação. Elas estão lá
dentro dos miolos, quietinhas, à espera de um estímulo para eclodir. Ofício
esquisito: quanto mais se delira, mais se é julgado competente. Tanto melhor.
Estou no lugar certo.
Toda mente precisa
subtrair-se ao dia a dia, tirar o pé do chão, carece voar à frente do tempo.
Por isso, o fantástico costuma preceder a realidade, quando não a inventa.
Todos lutam para torná-lo palpável, quase sempre com êxito. Seres fantásticos
nos cercam.
Sou, contudo, um
desafortunado. A fantasia coletiva me discrimina. Nunca vi as criaturas
maravilhosas que pululam na Terra. Num cemitério, em noite de Lua cheia, sequer
uma alminha penada me acudiu. Assombrações me deixaram a ver navios nos cafundós
por onde andei.
Dizem que o diabo sabe
para quem aparece. Pois nunca apareceu para mim. Já pensou quanta crônica
renderia essa figura anacrônica? Não é um azar dos diabos o meu? Na outra ponta
do espectro, tampouco me adularam anjos, querubins, serafins e afins.
A maior frustração,
entretanto, foi nunca ter encontrado um ET, apesar de minhas dezenas de horas a
olhar o céu. Não vi nem disquinho voador. Na noite escura, só me apareceram
vaga-lumes, aviões, estrelas cadentes.
Somos
seres feitos de sonho. A falta de fantasia exterior talvez me obrigue a
buscá-la dentro de mim. Donde o prazer de inventar histórias. A contínua
procura, todavia, gera uma dúvida: existo ou me imagino? O espelho resolve a
questão. Eu me vejo, logo existo. Reflito, logo existo. Meus quatro braços, três pernas, duas cabeças
e estes nove olhos vermelhos comprovam. Sim, existo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário