Você
não gosta de poesia, acha a poesia de hoje difícil de entender, tem preguiça de
percorrer os labirintos de um poema atual? Uai, sabe que eu também fico às
vezes nessa sinuca de bico? A culpa não é da poesia, sempre necessária e
reveladora, mas dos modismos adotados por alguns poetas. O resultado costuma
ser, de fato, uma confusão, um desencontro de palavras, uma verborragia
desprovida de sentido.
Desconfio de que, com frequência, nem
o próprio poeta saiba o que tenha dito, se é que tivesse algo a dizer. Um deles
me confessou que desejava apenas fazer ruído. Sim, ruído. Se esse era o
objetivo, por que não gravou a barulheira no centro da cidade às seis da tarde?
O interessante é que alguns desses gajos recebem louvações da mídia, que tenta
nos forçar a concluir que são o ideal da arte, o suprassumo das musas, o modelo
do futuro. Somos enganados e ficamos com a tristeza de desgostar de poesia, não
é mesmo?
Vamos separar as coisas. Quem faz
poesia assim é uma minoria. Existem grandes poetas, novos e antigos, para todos
os gostos, desde os que fazem grandes voos verbais aos gênios que sintetizam
enciclopédias em meia dúzia de palavras. Esses não passarão feito passarinho.
Enquanto
romancista, invejo a capacidade de dizer tanto em tão pouco. Os poetas me tocam
bem fundo, revelam passagens escondidas entre nossos abismos interiores, tiram
o peso do corpo e da alma, abrem avenidas para o pensamento, questionam ideias,
expõem conflitos, revolvem nossas entranhas, oferecem momentos de graça e vislumbram
o paraíso. O mundo é feito de poesia. O bom poeta sabe disso e a garimpa onde
menos esperamos. Arranca-a da pedra, do caminho, do asfalto. O resultado é puro
deleite, puro encantamento, pura poesia. Poesia não morde. Afaga.
2 comentários:
Eu também acho que a poesia deve afagar sedutoramente, deve envolver corpo e alma como um concerto que harmoniza a diversidade de tons e timbres. O resto é só ruído.
É como uma orquestra de principiantes. Os instrumentos ainda por ser aprendidos.
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