segunda-feira, 22 de junho de 2015

Elogio da masturbação

Mark Twain, o famoso autor norte-americano de As Aventuras de Huckleberry Finn, livro liberado para todas as idades, considerado por Ernest Hemingway e William Faulkner a obra fundadora da literatura nos Estados Unidos, possui um lado menos conhecido, aquele do ativista político, do crítico da religião, do grande humorista.
          Quando abordou esses assuntos, sua obra foi banida, censurada, rejeitada, só publicada postumamente. Em plena ascensão do imperialismo ianque, Mark Twain era anti-imperialista ferrenho e criticou as guerras de conquista norte-americanas, sobretudo a invasão das Filipinas, onde seus compatriotas assassinaram, a sangue frio, de uma vezada, seiscentos filipinos muçulmanos. Resultado: a obra crítica só saiu em 1924, quatorze anos depois da morte do escritor.
          Twain era antirreligioso, adversário contundente do cristianismo. Afirmou que, no sangue arrancado de inocentes pelos cristãos, todas as frotas do mundo navegariam com grande conforto. Resultado: essa acidez corrosiva só chegou ao público em 1972.
          Até seu humor cáustico ficou escondido por décadas. Um de seus discursos, proferido num clube de escritores e artistas em Paris, em 1879, aos quarenta e seis anos de idade, só apareceu em 1943, em edição de apenas cinquenta exemplares. Cinquenta exemplares, não mais. 
              Que perigoso discurso era esse? Trata-se do engraçadíssimo Algumas reflexões sobre a ciência do onanismo. O autor desentoca, com candente ironia, possíveis masturbadores ao longo da história, ligando seus momentos mais criativos ao chamado vício solitário. De Homero a Darwin, não poupa ninguém. Diz que o costume eliminou mais crianças que qualquer outro meio conhecido.
          Por esse bom humor, o discurso ficou banido durante sessenta e quatro anos. Ainda bem que a internet permite que, hoje, todos leiamos as Reflexões sobre a ciência do onanismo. Mas, por favor, não o faça sozinho, trancado no banheiro. Divida com os amigos, recomende, ponha em circulação, anuncie, toque a corneta. Rir faz bem à saúde. 

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