terça-feira, 9 de junho de 2015

Shakespeare era gay?

      Ser ou não ser, eis a questão: Shakespeare era gay? Esta pergunta frequenta as rodas acadêmicas e, de vez em quando, a mídia. Há quem o tire do armário em definitivo, quem diga que ele, casado e pai de três filhos, sequer passou perto de armários, há quem jure que o dramaturgo entrava e saía, com desenvoltura, de lá de dentro. Tem Shakespeare para todo o mundo. Do jeito que gostais, diria o Velho Bardo, com ironia. A suspeita tem várias origens. A maior aparece nos Sonetos. Dos cento e cinquenta e quatro que conhecemos, mais da metade fala de amores do poeta por um jovem. Amor tão profundo quanto o de Romeu e Julieta.
          O Soneto 75, por exemplo, abre com a declaração de que o tal jovem é, para o autor e seus pensamentos, como a comida para a vida. Nada mais explícito, certo? Não necessariamente. O fato de Chico Buarque ter feito músicas como se fosse mulher, declarando amor aos homens, não significa que tenha mudado sua opção sexual. Isso também vale para Shakespeare. Ele simplesmente se teria passado por um adulto envolvido com outro homem.
          No entanto, dizem os partidários de Shakespeare gay que o Soneto 20, no verso em que o tal jovem se torna senhor e senhora da paixão do poeta, o compromete sem volta.
          Muito ainda se escreverá sobre o assunto, porém jamais saberemos a verdade. Como também diria o dramaturgo, o que importa? A incerteza move o mundo. A ambiguidade move a literatura. Shakespeare, genial também como poeta e manipulador da ambiguidade, trouxe a dúvida para sua vida. É um motivo a mais para lermos seus belos sonetos.

4 comentários:

Terezinha disse...

Pois é. E se tiver sido?
E se Fernando Pessoa também tiver sido? E Michelângelo?
Fazedores de obras primas...

BlogdoLuísGiffoni disse...

Pois é, Terezinha, e dai? Ninguém, com a mente aberta e sem preconceito, os deixará de admirar pela opção sexual. São gênios em qualquer circunstância. Não à homofobia.

Anônimo disse...


Primo, seu texto me fez lembrar de um poema de Charles Baudelaire, “O albatroz”, onde ele compara o artista a uma desengonçada ave (aquele pássaro grandão. Quem não se lembra dele no filme “Procurando Nemo”, né?) que quando vemos voando é lindo, segue a embarcação num voo triunfal, mas que ao ser visto de perto é feio, desengonçado e sem nenhum atrativo.
Quando vamos ao teatro assistir uma sinfônica ninguém pensa ou se importa: ‘o maestro bate na mulher; o pianista é veado ou a violinista é piranha”. Estamos ali para ver a obra e desfrutarmos da beleza que o conjunto é capaz de executar.
De perto ninguém é normal, já dizia outro poeta. Shakespeare é tão soberbo que pouco importa de que lado ele dormia na cama ou se optou dormir no chão ou ainda na rede.
Shakespeare fala da natureza humana de uma maneira singular como poucos conseguiram fazer até hoje. Não é à toa que Harold Bloom diz que se um ser de outra galáxia pousar na Terra e quiser saber o que é ser um ser humano, basta dar para este extraterrestre as obras do bardo inglês. Tá tudo ali. Beijos, Carla Giffoni

BlogdoLuísGiffoni disse...

Concordo plenamente com você, prima. Shakespeare é, para mim, o maior escritor de todos os tempos. Sou fã de carteirinha. Ele é nossa humanidade escrita. Também concordo com Bloom. Só não concordo com esses idiotas que querem transformar a homofobia em lei, como aconteceu ontem no Congresso. É um retrocesso. Beijos