sexta-feira, 31 de julho de 2015

A Lua, minha sombra e eu: três solidões

     Como se fala da China... Queda da bolsa de Xangai, redução das importações, economia em crise, falta de democracia, capitalismo selvagem... Pouco se fala de sua poesia. Ela teve um chamado "período de ouro" durante a dinastia T’Ang, que governou o país entre os anos 618 e 907, desenvolveu a impressão de livros com blocos de madeira e expandiu a Rota da Seda rumo ao Ocidente. 
       A China venera até hoje esses poetas que viveram há 1300 anos. Eles são muitos, mas dois se destacam: Li Po e Tu Fu, grandes amigos, bravos guerreiros que arriscaram a vida em muitas batalhas, beberrões incorrigíveis e, apesar dos estilos diferentes, mestres de uma poesia visual, à flor da pele.       
      Li Po e Tu Fu escreveram verdadeiras pinturas, cheias de cor e detalhe, capazes de penetrar fundo na natureza e na alma. Uma pena que suas obras percam a sonoridade interna com a tradução. Tu Fu esmerou-se na descrição dos efeitos da guerra. Ele diz:
          
          Um cavalo branco aparece do nada,
          Esbaforido de medo,
          A sela vazia atravessada por 3 flechas.
          Onde está o cavaleiro,
          Para que a vã coragem
          Que lhe ofereceu o calor da guerra
          E o levou ao frio da morte?
          
          Li Po gostava do vinho e da Lua. Uniu esses prazeres numa bela composição:
         
          Entre as flores do jardim,
          Copo à mão,
          Bebo sozinho.
          Os amigos partiram,
          Não sei onde estão.   
          Ergo um brinde à Lua cheia.
          A Lua, minha sombra e eu,
          Três solidões.

     
       Cecília Meireles legou-nos algumas traduções de Li Po e Tu Fu, três vezes inspiradas pois junta sua criatividade à dos dois poetas chineses. Não são três solidões. São três encantos. 

Um comentário:

Anônimo disse...

otimo!!!! Abracao tio!!