quinta-feira, 23 de abril de 2015

Paraísos improváveis (1)

Paraíso 1 Ladakh
   
     Há muitos paraísos improváveis no mundo. Um pode estar aqui, ao lado da gente, sem que desconfiemos. Outros se encontram a milhares de quilômetros. Entre estes, o Ladakh, no norte da Índia, na fronteira do Paquistão, China e Tibete, é dos meus preferidos. A região enfrenta todo tipo de confronto: religioso, entre hinduístas e muçulmanos; terrorista, entre os defensores da anexação da região ao Paquistão e os indianos; bélico, pois uma guerra entre Índia e Paquistão, bastante plausível, pode descambar em explosão de bombas atômicas que ambos os países possuem; humanitário, pois abriga um grande contingente de refugiados tibetanos, expulsos pelos chineses nos tempos de Mao Tse Tung, quase todos budistas; tectônico, uma vez que o choque das placas tectônicas do subcontinente indiano e da Ásia continua acontecendo, levantando as montanhas e provocando terremotos.
      Onde fica, então, o paraíso? Basta andar pelo Ladakh, ver a beleza do Himalaia, suas duas cadeias cortadas ao meio pelo rio Indus com águas azuladas, subir ao alto dos picos e observar a extensão da cordilheira que some de vista, pegar uma das trilhas e seguir entre árvores estranhas e pedras polidas pelo gelo. Sentir o cheiro da terra, totalmente diferente do brasileiro. Ver, ainda, os vários mosteiros budistas e participar de suas orações pela paz no mundo. Experimentar o chá da tarde com eles ou com os aldeões que servem um pão delicioso, feito na hora. Ouvir o canto dos lavradores ao cuidar das plantações, ou o som das trombetas que ecoam no Himalaia. Ver a Lua e as estrelas quase ao alcance dos dedos. Visitar vilarejos que parecem um século atrás no tempo. Olhar o rosto das pessoas que, diante de uma difícil realidade, não escondem o sorriso e a simpatia. O Ladakh conquista o paraíso a cada dia.        

Nenhum comentário: