segunda-feira, 6 de julho de 2015

Uma poeta de ouro

           Preste atenção na pronúncia deste belo, sonoro e complicado nome: [viˈswava ʂɨmˈbɔrska]. Vou repetir: [viˈswava ʂɨmˈbɔrska]. Seu nome de batismo: Wislawa Szymborska. Era escritora polonesa, nascida em 1923, ganhou o prêmio Nobel de Literatura de 1996 por sua poesia que, com precisão irônica, traz à luz o contexto histórico e biológico da realidade humana. Além da ironia, ela se vale de paradoxos, contradições e reticências para investir em seus temas preferidos, como a filosofia e o relacionamento entre as pessoas.
          Seus poemas, em geral, são realistas, sucintos, densos, alguns com dez versos apenas. Nesse curto espaço, ela aborda dramas existenciais e éticos que refletem a condição do indivíduo, bem como a da coletividade, sobretudo a da Polônia atual. Daí a alcunha de “poeta filosófica” ou “poeta da consciência do ser”. Carimbos difíceis que não condizem com a fluidez de sua obra.
          Seu trabalho de introspecção e sabedoria não chega a trezentos poemas, tampouco existia no Brasil tradução de sua obra até setembro de 2011, quando a coletânea Poemas saiu pela Companhia das Letras. Descubra este livro. Vale a pena.
          Para lhe trazer um gostinho de Szymborska, traduzi de Um encontro inesperado:

          A gente se trata com cortesia demais,
          ano após ano repetimos como é bom estarmos juntos.
          Nossos tigres bebem leite,
          nossos tubarões se afogaram,
          nossos pavões renunciaram ao leque de penas,
          nós emudecemos no meio das frases,
          cheios de sorrisos e passado.
          Por nossa humanidade,
          nós dois desaprendemos a fala.

          Como se vê, em poucos versos ela descreve a dura realidade de muitos relacionamentos. Na verdade, Wislawa não precisa falar muito para dar o recado. Daí seus 300 poemas apenas. Ela morreu em 2012. Nesta semana, ela teria completado 93 anos. Ficou a boa lembrança.

Um comentário:

Renato Perim disse...

"Nossos tigres bebem leite,
nossos tubarões se afogaram"

Simplesmente demais!