sexta-feira, 3 de julho de 2015

A CIÊNCIA ERRA?


       O século 20 começou com certezas absolutas – e combateu-as a ponto de questionar a existência da própria realidade. Graças aos físicos, o mundo ficou de pernas para o ar. A reviravolta começou com Einstein e a relativização do espaço e do tempo. Qual rolo compressor, suas ideias vêm influenciando a ciência e a cultura. “Relativizai-vos ou perecei”, ameaça a esfinge da modernidade, segura da inexistência de um Édipo para enfrentá-la.
     No início do século 20, a Via Láctea significava o limite do cosmo. Hoje, as imagens do telescópio Hubble revelaram duzentos bilhões de galáxias. A Terra havia perdido a primazia do centro de tudo, o Sol não se aguentou no trono por muito tempo, a Via Láctea, menos ainda. E nós, os seres humanos? De queda em queda, de donos do paraíso terminamos alijados para um cantinho insignificante do infinito. Resumindo, os físicos nos degradaram, isto é, degredaram, do absoluto para o nada. Viramos pó. Infinito em pó.
     A insignificância humana contaminou vários pesquisadores que decretaram o fim das próprias atividades. Depois da guilhotinada na história feita por Fukuyama, uma idiotice, a ciência também subiu ao cadafalso. Seus carrascos são ganhadores do Nobel e frequentam a mídia com a desenvoltura de atores de Hollywood. Gente famosa como Stephen Hawking, Steven Weinberg, Richard Dawkins e Francis Crick afirma, às claras ou nas entrelinhas, que o conhecimento está completo em suas linhas mestras. Resta para as gerações futuras o trabalho de botânicos, ou seja, a busca paciente de espécies de informação para enquadrá-las nos grandes reinos, filos e classes hoje definidos. Doravante a ciência vegetará. Adeus, grandes avanços. Adeus, revoluções.      
     Arroubos à parte, essa visão pessimista – e triunfalista ao mesmo tempo – tem fundamento? Na verdade, não. O argumento de que, nas últimas décadas, nada básico se acrescentou à física ou à biologia não exclui, em princípio, a abertura de novos reinos ou filos na taxonomia da natureza.
     A morte súbita da ciência, decretada à revelia, desprovida de elementos para avaliação é, portanto, mero palpite – e palpite não falta entre os cientistas, de resto seres mortais e sujeitos a erros. Em alguns congressos, eles divagam mais que amigos em mesa de bar depois da décima dose. Costumam discutir sexo de anjo com candura bizantina. No Japão, pesquisaram durante anos a influência das nadadeiras do tubarão na geração de maremotos.
     Do debate em questão fica, se tanto, o benefício da dúvida. A mecânica quântica, que maneja a incerteza com perícia, bem poderia dar-nos uma resposta sobre o próprio fim, aliás, incerto como o início de tudo. Como a resposta não existe, retomo o degredo humano para um cantinho sem atrativos do Universo, imposto pelos cosmólogos. De relativização em relativização, de probabilidade em probabilidade, viramos nada. Há algo mais absoluto que o nada?

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